Nunca É Cedo Demais Para Começar O Planejamento Da Sucessão

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Se você quer que o seu legado sobreviva, você precisa preparar a próxima geração.

Como em qualquer esporte coletivo, estar preparado para partidas e campeonatos não acontece da noite para o dia. Nunca é muito cedo para começar a criação de uma base para uma transição familiar de sucesso.

Recentemente, uma amiga nos ligou. Seu tio, um dos líderes do negócio da família, falecera devido à Covid-19. A família ficou obviamente abalada. Ele tinha um impacto enorme na governança e em todos, “mas pelo menos seu plano de sucessão estava claro e tudo está pronto e arranjado”. Soa estranho estar no meio de algo tão difícil e ter que pensar em coisas do tipo : “quem vai substituí-lo no Conselho”. Mas em nossa experiência, um dos melhores jeitos de se passar por uma transição familiar, seja ela inesperada ou até mesmo esperada, é planejar para o longo prazo, bem antes disto se tornar uma realidade. É normal para qualquer pessoa, estar tão impactada após a morte de um ente familiar, que decisões para manter o negócio funcionando acabem naturalmente perdendo prioridade.

A pergunta seguinte de nossa amiga demonstrou que ela havia entendido o quão importante é o planejamento sucessório para negócios familiares: “Quando eu devo começar a planejar minha própria sucessão?”

A resposta foi “já”. Como em qualquer esporte coletivo, estar preparado para partidas e campeonatos não acontece da noite para o dia. Nunca é muito cedo para começar a criação de uma base para uma transição familiar de sucesso. . Aqui, oferecemos algumas diretrizes para que você possa pensar sobre como prepara a sua família para uma eventual transição geracional.

O relógio está correndo

No primeiro momento que você pensar: “Quero que isto passe para os meus filhos”, este é o momento de começar. Transição e sucessão são um processo, não um evento. Então, use o tempo a seu favor: quanto antes você começar a pensar sobre isto e tomar decisões intencionais, mais fácil será uma eventual sucessão. E talvez até mais importante, maiores serão as chances da transição acontecer nos termos que estejam alinhados com os seus desejos para os negócios e para sua família.

No primeiro momento que você pensar: “Quero que isto passe para os meus filhos”, este é o momento de começar. Transição e sucessão são um processo, não um evento.

Diversas famílias empresárias líderes tomam a decisão de ter seus pré adolescentes e adolescentes aprendendo sobre as empresas, as pessoas que trabalham em seus negócios, o que estas pessoas fazem e como. Isto muitas vezes os conecta emocionalmente com os negócios. Regina Helena Scripilliti Velloso, membro da quarta geração de acionistas do Grupo Votorantim, compartilhou com nossos colegas Josh Baron e Rob Lachenauer, em seu livro Harvard Business Review Guide to Family Business, como seu avô instilou de forma indelével nela a conexão com a paixão a partir da qual o negócio da família floresceu. A empresa familiar tem hoje operações em mais de vinte países em cimento, mineração, metalurgia, siderurgia, bancos, suco de laranja e geração de energia elétrica. Mas como todos os grandes negócios familiares, a Votorantim começou com uma paixão menor.

Quando eu era pequena, meu avô nos levava para visitar a usina de cana de açúcar. E eu de verdade não gostava do gosto do caldo de cana. É horrível. Mas eu não tinha coragem de dizer isto ao meu avô, pois sabia o quanto aquilo significava para ele. Ele dizia “Quando você sente o cheiro do melaço, você nunca esquece. Isto entra no seu sangue e no seu coração”. Eu não entendia aquilo naquela época, mas quando cresci, compreendi que ele estava dividindo comigo sua paixão pelo negócio e pelo legado de onde viemos.

“Quando você sente o cheiro do melaço, você nunca esquece. Isto entra no seu sangue e no seu coração”. Eu não entendia aquilo naquela época, mas quando cresci, compreendi que ele estava dividindo comigo sua paixão pelo negócio e pelo legado de onde viemos.”.

Exposição ao negócio, quando se é jovem – tal como trabalhar na loja, estocar prateleiras, ajudar a escolher um logotipo ou caminhar na lavoura – criam uma impressão duradoura pelo negócio familiar. É uma importante lição para se ter logo de início: de que nem tudo é só dinheiro, e que negócios podem ser fascinantes. Muitos donos de empresas provêem seus filhos com uma profunda admiração pelo negócio familiar de forma apropriada para cada idade, através de histórias, visitas a fábrica, estágios, etc.

Não estamos sugerindo que você deve começar a treinar sua filha de 7 anos para ser a CEO. Estamos propondo que você se eduque em como pensar a sua sucessão. Como a situação de nossa amiga deixa claro, sucessão na família empresária não é só sobre quem será o próximo presidente. É sobre pensar sobre todos os papéis que os membros familiares desempenham, incluindo a liderança do Conselho Familiar. É sobre tomar decisões a respeito da configuração do negócio e da governança, preparando a empresa e preparando você para tomar as decisões corretas. Quanto mais tempo você tiver para planejar isto, melhor.

Times excelentes precisam de treino, treino, treino

Administrar um negócio familiar é um esporte coletivo. Você não vê nenhum grande time que esteja nas melhores ligas, não importa quão fantásticos sejam seus jogadores, simplesmente aparecer para o jogo. Eles treinam juntos por horas e horas, de forma a saber como funcionar como time, permitindo que os talentos individuais brilhem. Você quer que seus filhos e sobrinhos formem um time ganhador? Você precisa então ajudá-los a trabalhar juntos.

E não é só sobre aprender a tomar decisões conjuntamente, é sobre realizar algo juntos, construindo soluções e experimentando aquele sentimento incrível de realização. Até mesmo atividades simples entre os membros mais jovens da família podem ajudá-los a construir relações e confiança, ambas essenciais para uma transição geracional. Estas atividades podem começar com um quebra-cabeças, ou a construção de uma casa de brinquedo, evoluindo para o planejamento e organização de uma viagem de família, e avançar até o lançamento de um produto ou a compra de um negócio. Não somente eles aprenderão a trabalhar juntos, mas idealmente construirão uma base de confiança. Não quer dizer que isto acontecerá automaticamente, você pode ter que ajudar, orientar e, em alguns momentos, até intervir no processo. Exatamente como qualquer técnico faria com seu time. Explique porque eles precisam ser capazes de trabalhar juntos. Algo tão simples como “como a próxima geração de acionistas, irmãos, primos e membros da famílias dos diferentes ramos precisarão ser capazes de tomar boas decisões juntos” pode ser um bom início. O ponto é que você está ativamente preparando-os para trabalhar juntos e tomar decisões conjuntamente bem antes disto ser uma necessidade.

E não é só sobre aprender a tomar decisões conjuntamente, é sobre realizar algo juntos, construindo soluções e experimentando aquele sentimento incrível de realização.

Você pode ser tentado a dividir responsabilidades entre eles – por exemplo permitindo que seus sucessores liderem unidades de negócios ou departamentos diferentes – como uma forma simples de acomodar suas necessidades individuais enquanto dá à eles espaço para atuar e crescer. Mas isto não permite que eles trabalhem como parceiros. Mesmo colocando-os em unidades distintas de negócio, você pode criar intencionalmente situações ou projetos que requeiram que aqueles departamentos diferentes trabalhem juntos. Trabalhamos com um CEO de 65 anos que sucedeu seu pai no negócio. uando era jovem, seu pai tomou a decisão de que cada filho teria uma área de responsabilidade, não interagiam entre si e só se reportavam ao pai. Após a morte deste, os irmãos dividiram os negócios e se separaram. Um dia, visivelmente triste, ele compartilhou: “Você sabe quando eu e meus irmãos seríamos capazes de ser sócios nos negócios? Provavelmente nunca. Trabalhamos 40 anos nos negócios e nosso pai nunca nos mostrou como trabalhar juntos.” Trabalhar juntos e passar por situações de conflito pode ser uma oportunidade de aprendizado importante para a próxima geração.

Eles precisam entrar em campo

Sabemos que pode ser desafiador pensar na próxima geração quando você é consumido pela construção do negócio. Às vezes, ouvimos “O negócio é meu, eu criei, eu construí. É do meu jeito e acabou.” Mas se você quer que seu legado sobreviva à você, é necessário não só preparar a próxima geração mas também fazê-los se sentirem parte do negócio e da família empresária. Não estamos sugerindo que os deixe assumir o controle muito cedo ou que você abra mão de seus direitos decisórios, mas que comece um diálogo com a próxima geração. Ouvir o que os seus sucessores pensam e entender o que trazem para jogo, dará a você um grande entendimento sobre como eles serão como futuros acionistas e líderes, além de lhe dar uma oportunidade incrível de dialogar, compartilhar sua perspectiva e até ensinar uma coisa ou mais a eles. Talvez vocês possam começar colaborando. Pode até ser algo pequeno: escolher a cor de uma embalagem. Pode começar com histórias: como você decidiu fundar ou entrar para os negócios. Interessá-los de verdade com os negócios, e fazê-los sujar a mão de graxa, não acontecerá da noite para o dia, mas é crucial para aumentar as chance de conectá-los não só com a empresa mas também com uma parte importante da sua vida.

Se você quer que seu legado sobreviva à você, é necessário não só preparar a próxima geração mas também fazê-los se sentirem parte do negócio e da família empresária.

“Vencer” pode ser um conceito diferente para cada indivíduo

Preparar a sua sucessão não é criar um clone para substituir você, mas sim preparar seus filhos para tomar decisões difíceis, de modo bem informado e pensado. E isso não acontece da noite para o dia. Há também diferentes graus de envolvimento que seus filhos podem ter nos negócios. É possível que nem todo membro da próxima geração queira se envolver de verdade nos negócios e está tudo bem.

Seus sucessores não têm que trabalhar no negócio para serem contribuidores relevantes. Ser um acionista responsável leva tempo e demanda interesse e comprometimento, e pode ter um impacto enorme na empresa e em todos os stakeholders. Engajar a próxima geração com os negócios cedo em suas vidas ajudará a criar uma conexão emocional, com você e com o negócio, e pode garantir que o legado de sua família perdure. Desta forma, a sucessão não tem que ser um processo doloroso. Mas pode até mesmo gerar oportunidades para vocês viverem momentos divertidos e criarem memórias inesquecíveis.

Resumo: A sócia e diretora do BanyanGlobal, Aline Porto e Ana Silvia Resende, compartilharam suas idéias sobre a sucessão do negócio familiar, comparando-o com um esporte coletivo: estar preparado para o futuro não acontece da noite para o dia. É importante que os proprietários de empresas familiares tenham uma imagem clara do que querem transmitir às gerações, incluindo os elementos-chave da cultura que querem que perdurem. Isso não vai acontecer da noite para o dia. É crucial praticar e trabalhar juntos dentro da família para tocar o negócio e preparar a próxima geração para assumir a liderança quando chegar a hora. Como Resende e Porto sugerem: “Se você quer que seu legado sobreviva à você, é necessário não só preparar a próxima geração mas também fazê-los se sentirem parte do negócio e da família empresária..”

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